Professores criam purificador portátil de água para locais remotos

Equipamento usa três filtros, pesa cerca de oito quilos e inclui uma bomba de grande eficiência.

A falta de acesso à água potável é um problema grave em todo o mundo, com 2,1 bilhões de pessoas – 3 em cada 10 – sem serviços de abastecimento que levem água de qualidade até as suas casas, segundo relatório da OMS e Unicef. No Brasil, a estimativa é que sejam 34 milhões de pessoas sem acesso à água de qualidade, o que representa 16% da população. Buscando contribuir para a transformação desse cenário, um grupo de servidores docentes e de estudantes vinculados ao Departamento de Engenharia Mecânica (DEMec) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveu, ao longo deste ano, um sistema portátil de purificação de água, capaz de produzir até 4.320 litros de água potável por dia, abastecendo uma família ou, em alguns casos, pequenas comunidades.

O projeto de extensão “Avaliação da qualidade da água de diferentes sistemas de filtração compactos para uso doméstico”, coordenado por Fernando Guimarães Aguiar, docente do DEMec, surgiu de demanda apresentada à Universidade no final de 2017 pela Companhia Coral de Investimentos e pela empresa Água Boa. As empresas haviam adquirido um nanofiltro de fabricação alemã e tinham interesse em desenvolver o sistema de purificação a partir desse filtro.

“O nanofiltro é o grande diferencial do nosso sistema, com 100% de eficiência na remoção de vírus e bactérias. Mas não basta ter o filtro. O processo de purificação precisa ser realizado em etapas, desde a remoção de materiais maiores como pedras até a etapa da ultrafiltração e, além disso, havia outros desafios a equacionar”, conta Aguiar. Tais desafios estavam diretamente relacionados ao objetivo pretendido para o equipamento: a utilização em locais de difícil acesso, onde a rede de distribuição de água não chega. “O sistema precisava ser compacto, eficiente e flexível no que diz respeito ao consumo energético, robusto – para aguentar vibrações e impactos no transporte – e de fácil manutenção, além do baixo custo”, explica o pesquisador.

O trabalho

Para verificar diferentes possibilidades na busca da melhor solução, uma bancada experimental precisou ser construída e mais de 30 filtros foram testados, com a utilização de amostras de água com diferentes características.

A configuração final do equipamento – batizado de PW 5660 – utiliza três filtros (dois convencionais e o nanofiltro), pesa cerca de oito quilos e inclui uma bomba de grande eficiência que reduz a potência exigida e, assim, a energia necessária. Assim, o abastecimento de energia pode ser feito tanto pela rede de energia elétrica, quando disponível, quanto por uma placa fotovoltaica acoplada ao equipamento. A estimativa de custo é de R$ 0,30 para cada mil litros de água potável produzida, e a previsão é que a manutenção precise ser feita a cada 100 mil litros produzidos, o que, para o uso familiar, deve representar cerca de três anos de utilização, segundo os responsáveis.

Resultados

Na última quinta-feira (6) de dezembro, o projeto foi apresentado a Gaston Kremer, Gerente de Campo e Impacto da WTT (World-Transforming Technologies), fundação latino-americana dedicada a conectar inovadores a oportunidades de impacto social, ambiental e econômico. A WTT integra a aliança “Água+ Acesso”, iniciativa voltada à ampliação do acesso à água segura por comunidades rurais que é articulada e gerida pela Coca-Cola e conta com a participação de várias outras organizações. O encontro aconteceu no Campus São Carlos da UFSCar, com a participação também de Fernando Silva e Maria Helena C. R. Azevedo, da Coral e Água Boa. Na ocasião, além da apresentação da iniciativa, uma demonstração foi realizada à beira do lago da UFSCar, durante a qual a água do lago, turva e imprópria para o consumo humano, foi rápida e facilmente transformada em água potável e bebida pelos presentes.

“A experiência aqui na UFSCar foi incrível. Foram poucas horas, mas muito conhecimento e evidências de uma imensa evolução! Eu conheci o Fernando, da Coral, no início deste ano, no Fórum Mundial da Água, quando ele tinha uma ideia promissora e um desejo de inovar muito grande, que a parceria com a UFSCar materializou. A WTT está atenta para poder apoiar a aplicação, e na expectativa de poder criar outras oportunidades para disseminar essa tecnologia que tem um potencial de impacto social muito grande”, registrou Kremer ao final da visita.

“A nossa parceria com a UFSCar é uma parceria vencedora e que nos dá muito prazer. É um projeto que a gente vê que vai ter uma contribuição social muito grande e que também, proporciona o retorno para o empresário. Esta é uma configuração muito interessante, que eu descobri há pouco tempo, e na qual eu contei com todo o entusiasmo do professor Fernando e de toda a equipe da UFSCar”, complementou o representante da Coral Investimentos e da Água Boa.