Racismo e discriminação disfarçados de cotas raciais e socioculturais
Foto ilustrativa.
INALDO BRITO | Recentemente, a Universidade Federal do Tocantins publicou um edital de pós-graduação com cotas destinadas ao público LGBTI. Depois de alguns dias repercutindo nas redes sociais, a Universidade voltou atrás e retirou a proposta. O edital reservava 10% das vagas (seis, para ser mais específico) para o grupo. Atitudes como essa da UFT - de tentar incluir "minorias" a qualquer custo no ambiente acadêmico - tem se tornado cada vez mais comum nas universidades públicas brasileiras.
A política pública de ações afirmativas, como as cotas, foi primeiramente implementada a fim de se sanar um déficit social em determinada camada da população que não possuía as oportunidades necessárias para iniciar um curso universitário. Aos poucos, tornaram-se o foco para militantes e grupos ativistas de raça e gênero. Hoje, a universidade pública se preocupa muito mais em agradar supostas minorias por meio de justiça social do que fomentar a inovação, o desenvolvimento e a pesquisa científica efetiva.
No que diz respeito às cotas raciais, a universidade pública decidiu se pautar unicamente pelo que o estudante informava no questionário socioeconômico preenchido no ato da inscrição. Como boa parte das universidades reservam 50% de suas vagas àqueles que se autodeclaram negros, houve um aumento absurdo de estudantes declarando-se de tal cor apenas para aumentar suas chances de ingresso. Com o tempo, as universidades perceberam que a quantidade de negros dentro do círculo acadêmico não era aquela que os idealizadores das cotas imaginavam. Então, comissões foram criadas para avaliar se o estudante que se declarava negro realmente era detentor dessa cor.
Entre os anos de 2017 e 2019, universidades como a UNESP e a UFBA criaram tais comissões a fim de averiguar possíveis "fraudes" nas inscrições acadêmicas em vários de seus cursos. Tais comissões avaliativas nada mais são do que tribunais raciais que analisam se o estudante é negro o suficiente para aquela cota - algo que passa bem perto do que foi a ideologia nazista e que culminou no aprisionamento e morte de milhões de judeus.
Por mais que os militantes de grupos raciais não queiram reconhecer, mas é fato que a política de ações afirmativas tem gerado mais discriminação, por parte justamente dos defensores da igualdade racial, do que a resolução de "dívidas históricas" contra os negros. Um país miscigenado como o nosso é bem diferente de um país com guetos homogêneos, como o é na África do Sul e no próprio Estados Unidos. As cotas raciais no Brasil foram mais uma importação de política pública estúpida de países que não conseguiam resolver suas diferenças socioculturais internas com fomento à educação básica.
No fundo, o interesse dos políticos brasileiros que importaram essa política pública não era uma suposta quitação de dívida histórica ou a heterogeneização acadêmica, mas sim, a formação de mais um curral eleitoral, só que dessa vez, racial. Tanto é que indivíduos negros que são contrários às cotas raciais acabam sendo achincalhados, detratados e, às vezes, até perseguidos por quem jura defender a causa racial.
O professor Paulo Cruz (colunista do jornal Gazeta do Povo) e o vereador Fernando Holiday (do MBL de São Paulo) sabem muito bem o que é conviver como persona non grata do ativismo racial. Os dois são abertamente contrários a qualquer tipo de política que quer ou utilizar o negro como simples acessório de propaganda político-partidária ou transformá-lo num coitadinho. Para eles, os resultados da política de ações afirmativas contrariam suas próprias intenções. Em vez de combater o racismo, as cotas afirmam um caráter racista, dessa vez com quem não se enquadra no estereótipo defendido.
No lado americano, há também os professores Walter Williams e Thomas Sowell que se declaram totalmente contrários a esse tipo de política pública. Os dois também são negros, Sowell, inclusive, possui um livro (Ação Afirmativa ao Redor do Mundo: Um estudo empírico sobre cotas e grupos preferenciais), fruto de pesquisa em alguns países, e relata como a implementação de políticas de ações afirmativas causaram mais danos socioeconômicos do que reparação justa.
Infelizmente, o que começou nas universidades públicas acabou migrando para outras searas, como partidos políticos e no serviço público. Aqueles que se acham minorias ou vítimas históricas da sociedade pleiteiam periodicamente vantagens e privilégios acadêmicos, sociais e empregatícios. Nem mesmo a iniciativa privada está livre dos tentáculos do ativismo racial e, agora, de gênero. A política de ações afirmativas está cada vez mais banalizando as relações comerciais e educacionais.
O vitimismo e o coitadismo com que negros, mulheres e homossexuais têm sido tratados pelos próprios grupos que juram defendê-los é uma mistura de síndrome de Estocolmo com assistencialismo estatal. Esses grupos dizem combater um suposto racismo, mas acabam perpetuando o que dizem combater e para isso utilizam uma inútil ferramenta: as cotas. Como diria Thomas Sowell: "Direitos civis significavam tratar a todos de maneira igual. Mas hoje algumas pessoas são tão acostumadas a receber tratamento especial que tratar com igualdade é considerado discriminação."
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