Raízes da decadência econômica de um país
Imagem ilustrativa.
INALDO BRITO | O professor N. Gregory Mankiw em seu livro Introdução à Economia elenca dez princípios que são cruciais para entender o mínimo sobre como funciona a economia. Dentre esses, um que chama a atenção é o Princípio 8: O Padrão de Vida de um País Depende de sua Capacidade de Produzir Bens e Serviços. De uma forma geral, Mankiw ensina que há uma relação direta entre a produtividade e o aumento do padrão de vida de um país.
Segundo Mankiw, essa relação “traz implicações profundas para políticas públicas. Quando se pensa sobre como alguma política afetará os padrões de vida, a questão-chave é como ela afetará nossa capacidade de produzir bens e serviços. Para elevarem os padrões de vida, os formuladores de políticas precisam elevar a produtividade garantindo que os trabalhadores tenham uma boa educação, disponham das ferramentas de que precisam para produzir bens e serviços e tenham acesso à melhor tecnologia disponível.”
Ora, essa constatação nada mais é do que o que está por trás de uma economia de mercado, ou capitalismo. Quando o ambiente torna-se um lugar onde a educação básica é mais valorizada do que o diploma universitário, onde a inteligência empreendedora e o desenvolvimento de novas ideias são mais incentivados do que a mera glória de um cargo público, e onde o progresso tecnológico é mais encorajado do que o atraso na modernização, as pessoas conseguem melhorar seu padrão de vida.
Como bem colocado pelo professor, são nesses alicerces que os formadores de políticas públicas deveriam se ater para garantir o desenvolvimento econômico de sua região. No Brasil, o que vemos é uma deturpação de todos esses fatores e, consequentemente, não é de se surpreender quando a meta do avanço não é atingida.
No campo educacional, a valorização do ensino superior tornou-se uma idolatria ao mesmo. É sempre bom deixar claro que não é errado a pessoa buscar um acréscimo em seu currículo educacional, e a universidade (para quem almeja títulos) ainda é o meio mais conveniente para tal. Entretanto, o que vemos no Brasil é um desprezo ao ensino básico, e isso pode ser constatado pelos resultados das notas do país no PISA. Os resultados mostram como os alunos ainda não sabem as operações matemáticas básicas e tampouco a gramática de sua própria língua ou interpretar textos simples.
Isso é temeroso, pois boa parte desses mesmos alunos que não possuem uma boa base educacional continuará assim, e quando terminarem o ensino médio (se conseguirem) pleitearão uma vaga no curso universitário. Se eles entram na universidade com essas limitações, acabam se transformando em profissionais limitados ou até mesmo acomodados por possuir um diploma universitário. Quando chegarem ao mercado de trabalho, perceberão que, para ocuparem boas funções, um simples papel timbrado com o símbolo da universidade não será suficiente para tal.
O fato é que apenas investir na educação de base não é por si só suficiente se o currículo educacional utilizado ainda continua defasado, engessado e obsoleto no que diz respeito ao preparo para a vida profissional do aluno, bem como à formação intelectual dele. Querer ensinar ao aluno da educação básica como se calcula juros e administração financeira não adianta muito se ele sequer entende as operações básicas que envolvem esses cálculos e a lógica por trás dessa gestão. Uma das coisas em que a educação domiciliar se destaca em relação à escolarizada é justamente o fato de que os docentes domiciliar se preocupam não apenas com o ensino do básico, mas principalmente com sua aplicação no dia a dia. Enquanto o currículo educacional escolar não se modernizar por meio da correta utilização das disciplinas básicas, esses exames educacionais só servirão para mostrar quão aquém estamos do desenvolvimento econômico.
O que surpreende, por um lado, é a sacralidade que algumas pessoas depositam sobre o ensino superior e que perpassa, em muitos sentidos, um desapreço pelas bases e fundamentos da educação. Tal desprezo é carregado por um egocentrismo ufanista por conta da universidade em que estudam ou onde trabalham. Se o defensor é oriundo da universidade pública, aí é que esse ufanismo se torna ainda mais patológico, tendo em vista que qualquer crítica que venha a ser feita à ineficiência mercadológica dos estudos e pesquisas realizados no campus é vista como um ataque direto “à soberania da educação democrática” – e assim, perde-se a oportunidade de estreitamento das ideias para um benefício viável e eficaz.
Quem chega a conclusão parecida com a de Mankiw são os autores Daron Acemoglu e James Robinson, em seu livro Por que as nações fracassam. Acemoglu e Robinson descrevem o que motivou o fracasso e o crescimento de algumas nações, e um dos fatores que é fundamental para o decréscimo ou o avanço econômico encontra-se na educação, que, por sinal, é o que contribui para o desenvolvimento tecnológico ou não de seus territórios e sociedades. Nações que possuem pessoas bem instruídas educacionalmente e intelectualmente acabam se destacando nas áreas da inovação, invenção e do aperfeiçoamento da ciência e do progresso científico. Enquanto que aquelas que desprezam o fomento à educação – e aqui não é o fomento à educação superior, mas principalmente ao ensino básico –, mais cedo ou mais tarde, se encontrarão em estado de degenerescência e miséria (intelectual e econômica).
O problema é que em muitos países, a degeneração da educação é algo que acontece motivada pelos próprios gestores públicos, governantes ou burocratas. As atitudes que esses líderes tomam acabam causando um grande déficit na produtividade do país, o que colabora para o enfraquecimento econômico interno, já que por não haver muitos indivíduos capazes intelectualmente e com a liberdade devida para colocar suas ideias inovadoras em prática, atrofiam-se as habilidades mínimas que as pessoas um dia possuíram. Com isso, não é de se surpreender que os indivíduos se tornem presas tão fáceis para populistas, figuras paternalistas e até mesmo ditadores que os enganam com a triste promessa de que eles estarão muito melhores se forem protegidos por alguma “babá estatal” do que se arriscarem por conta própria no ambiente corporativo e no mercado de trabalho.
Aos gestores públicos, o conselho que pode ser dado é que duvidem de si mesmos quando surgir em suas mentes alguma ideia aparentemente miraculosa e salvadora para os problemas socioeconômicos de sua localidade. É preciso agir mais com racionalidade do que partidarismo sentimental. Diagnosticar a verdadeira doença não é sinal de que o verdadeiro remédio será ministrado – muitas vezes o remédio que é disponibilizado torna a doença ainda pior. E talvez seja isso que tenha tantas vezes contribuído para o atraso econômico do Brasil.
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