Rui busca minimizar colapso da economia como Bolsonaro quer, mas sabe reconhecer perigo
Foto: Mateus Pereira/ GOVBA.
Muito criticado por propor o fim do “lockdown”, o nome gourmet do fechamento do comércio, o presidente Jair Bolsonaro não parece estar completamente equivocado. Tanto que o governador da Bahia, Rui Costa, adversário público do presidente, defendeu uma postura similar durante conversas com prefeitos baianos. A diferença é que Rui sugeriu a evolução gradual das medidas restritivas, enquanto Bolsonaro é contrário a toda e qualquer ação, para que a população viva em normalidade.
É estranho, não? Vou explicar de maneira didática. Ao falar sobre o fechamento de estabelecimentos comerciais, Rui indicou que os prefeitos de cidades que não registraram casos do novo coronavírus não deveriam promover a suspensão das atividades de lojas e feiras livres. É uma tentativa de evitar o colapso antecipado das economias locais, exatamente o que propõe Bolsonaro em uma escala macro – porém sem preocupação social. O governador reconhece o perigo da doença. O presidente vê como uma “gripezinha”.
Até aqui, a melhor resposta à expansão do novo coronavírus ao redor do mundo foi o isolamento horizontal, segundo especialistas da área médica, como diversos governadores determinaram. Países como Itália e Inglaterra chegaram a executar o isolamento vertical, apenas dos grupos de risco, e os números provocaram mudanças de posicionamento. Agora, italianos e ingleses vivem fases distintas da evolução da Covid-19, porém com toda a população enclausurada para evitar a disseminação do vírus. É um recuo provocado pelo crescimento rápido do número de mortos.
Rui não propõe a verticalização do isolamento. O governo da Bahia, inclusive, adotou medidas que já reduzem significativamente o trânsito de pessoas nas ruas, como a suspensão de aulas – crianças e adolescentes são apontados como virtuais transmissores assintomáticos. No entanto, a fala de Rui sobre a manutenção do comércio e das feiras livres em funcionamento mostra uma flexibilização para tentar evitar o cataclismo econômico prévio.
Nesse ponto há uma conversa, ainda que tímida, entre o que pensa Bolsonaro e o que pensa o petista baiano. Não dá para assistir o consumo e a atividade comercial e de serviços estagnar, sob o risco dos efeitos nefastos de longo prazo, a exemplo do aumento do número de pessoas em condição de vulnerabilidade social. É uma escolha de Sofia sobre qual o momento menos pior para assistir a população mais pobre fenecer. Rui, aparentemente, prefere adiar. Bolsonaro talvez só não se importe mesmo.
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