Sextou. O país sangra, e o brasileiro dança

Imagem ilustrativa. Texto de Alex Chagas Dourado.

Sextou.

Mais uma tragédia no noticiário, aí o brasileiro cria logo uma dancinha.

E como tem criatividade para o fútil.

A justiça?

Já foi cega. Hoje é míope seletiva.

Enxerga muito bem classe social, sobrenome, partido e número de seguidores.

Surda para uns, bilíngue para outros.

Lenta quando interessa. Cega quando convém.

O crime? Julgado por aparência.

A lei? Aplicada por influência.

A segurança?

Mal paga, despreparada na maioria das vezes, mal liderada — com colete vencido e dedo leve no gatilho.

Tira a vida de uns e vira as costas para outros, dependendo da cor, do CEP ou da ordem que veio de cima.

No final, quem morre é sempre o mesmo. Quem sobrevive, também.

E o povo?

Cansado, claro. Mas também preguiçoso, omisso e perigosamente adaptado à própria ruína.

Quer justiça, mas só quando dói no próprio bolso.

Quer ética, mas só exige dos outros.

Quer mudança, mas sem sair da zona de conforto — nem da cadeira de plástico do bar do fim de semana.

 

Afinal, “tá tudo errado”, mas a geladinha vai ter.

O pix da ajuda estatal vai chegar.

A indignação só volta na segunda-feira.

Com sorte.

 

Enquanto isso, bilhões evaporam dos cofres públicos em obras fantasmas, licitações viciadas, das contas dos velhinhos e estatais saqueadas por quadrilhas de terno e caneta.

E ninguém preso.

Ninguém devolve.

Ninguém viu.

 

A CPI vira teatro. O inquérito vira piada. A justiça se faz de morta — mas bem alimentada.

Tudo se arquiva, tudo se prescreve, tudo se esquece.

 

E no fim, quem paga a conta?

VOCÊ!

O cidadão de bem.

Que acorda cedo, cumpre regra, paga boleto e ainda defende o sistema que o usa como tapete.

Você, que banca a festa, limpa o salão, e ainda pede desculpa por ter tropeçado na própria dignidade.

 

O tal “homem de bem” virou isso:

Um idiota útil com CPF, a consciência anestesiada e a falsa sensação de que está fazendo sua parte.

Está não.

Está sustentando o circo.

E no final, ainda faz musiquinha, dança… e agradece.

Agradece aos mesmos que o saqueiam, o enganam e o chamam de eleitor só a cada quatro anos. Virou Freguês.

Porque quem não enfrenta, consente.

Quem se cala, compactua.

Mas ainda dá tempo.

Pare de dançar e pensar na sexta.

Reaja antes que apaguem a luz e escrevam sua história por você.

Descubra-se enquanto ainda é dono da própria voz.

Ou siga sorrindo (...) até que cortem o som — e perceba que foi só mais um figurante na própria farsa criada e sustentada por você.

 

- Texto de Alex Chagas Dourado