Sistema de pirâmide que funciona: invento livra água de agrotóxicos
Imagem: reprodução.
Um farmacêutico gaúcho criou um sistema de tratamento de água capaz de retirar dela agrotóxicos, fertilizantes, medicamentos e outras substâncias tóxicas, por meio de um processo de destilação baseado em energia solar.
Aprimorado, o invento poderá ser capaz de tratar, de forma contínua, grandes volumes de água como os de barragem de dejetos da mineração, por exemplo. O modelo não utiliza eletricidade nem baterias e a eficácia do sistema batizado de Reacqua chegou a ser reconhecida internacionalmente com a publicação de três estudos.
Rodrigo Hoff, 45, trabalha na área da análise de contaminantes em alimentos desde 2002. Ele explica que o Reacqua foi um projeto paralelo e voluntário que ganhou força e muitos colaboradores com o passar do tempo.
A Ecoa, ele explicou que a base científica do sistema é o processo físico de evaporação e condensação da água. Quando a água evapora por ação da energia solar, o vapor que sobe e depois volta a se condensar na forma de água já não carrega os contaminantes.
É basicamente um destilador solar, um tipo de aparelho que já foi usado no passado para dessalinização da água do mar, mas que nunca havia sido avaliado na remoção de contaminantes , diz. O formato piramidal otimiza a ação da energia solar, promovendo reações químicas provocadas pela própria luz, água e calor, que dificilmente ocorreriam em condições normais ou que ocorreriam de forma muito lenta , afirma.
O equipamento criado por ele já foi testado para remoção de alguns contaminantes de bastante impacto, como os herbicidas mais utilizados nas lavouras de arroz, fungicidas muito aplicados na soja, e uma mistura de antibióticos utilizados na criação intensiva de suínos e aves. Todos os experimentos foram feitos em condições reais, em campo, usando amostras com níveis altíssimos de contaminação.
Em todos os estudos, a eficiência da remoção dos contaminantes foi acima de 99,9%. Essas taxas, se comparadas com as produzidas por sistemas de tratamento e mesmo sistemas experimentais caros e complexos, são elevadas e se destacam principalmente por não precisar de energia elétrica, catalisadores ou reagentes químicos.
Os primeiros experimentos foram realizados em São Lourenço do Sul (RS), no campus da FURG (Universidade Federal de Rio Grande). Atualmente, estamos iniciando a construção de novos modelos mais eficazes e de menor custo, que serão testados na Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC) , diz.
No primeiro modelo construído, a média de água purificada produzida era de quatro litros por dia, para cada metro quadrado do reservatório da água contaminada. Embora ultrapasse os dois litros que uma pessoa necessita por dia para sobreviver, o cientista considera essa capacidade baixa e busca novos modelos com velocidade de purificação maior.
O sistema não usa tomadas, baterias, placas, fios ou qualquer tipo de alimentação externa de energia. Também não é preciso sol rachando . O sistema funciona em dias nublados e mesmo durante a noite, claro que em uma velocidade de produção de água bem mais baixa. Também não requer cloro, carvão ativado nem nenhum tipo de produto químico , ressalta.
Para compartilhar o conhecimento necessário para produzir um sistema semelhante, em 2021 foi lançado o livro REACQUA um esquema de pirâmide que dá certo , que ensina como construir e utilizar o sistema. O objetivo é dividir o conhecimento para que qualquer pessoa possa ter o seu próprio purificador.
Rodrigo Hoff conta que teve a ideia de produzir o equipamento quando trabalhou no antigo LARA RS (Laboratório Regional de Apoio Animal). Por lá, se deparou com uma pequena pirâmide construída em vidro e aço inox que chamou sua atenção. O equipamento havia sido construído por dois colegas de Hoff, Rogert Fulginetti Corseuil e Ronaldo Dias Neves, dois entusiastas da ciência e da inovação.
Eles haviam criado o protótipo com o objetivo de construir um destilador de água com base na energia solar. A partir desse primeiro contato, sempre tive o plano de avaliar o potencial daquele sistema na remoção de contaminantes químicos da água, como agrotóxicos, antibióticos e metais pesados , conta.
Hoff quer, agora, construir novos protótipos, comprovar a eficácia em laboratório e partir para desafios de instalar e fazer funcionar nos ambientes externos reais. Depois disso, é batalhar por recursos, montar projetos mais ambiciosos, com plantas de purificação de água em larga escala e testar a performance em outros climas brasileiros. Um sistema tão simples e barato merece ser estudado com mais detalhes , diz.
O sonho de Hoff é ver seu sistema aprimorado sendo capaz de tratar, de forma contínua e com custo irrisório, grandes volumes de água contaminada e alimentar sistemas de irrigação por gotejamento em áreas desérticas. As possibilidades são muitas, mas é preciso tempo, muita pesquisa e financiamento.
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