Sob pressão de aliados, governo prepara plano para o Nordeste
Presidente Jair Bolsonaro participa da solenidade de passagem de comando do Exército. Foto: Jorge William / Agência O Globo.
Bolsonaro foi derrotado por Haddad na região, onde todos os governadores são de oposição
BRASÍLIA - Sob pressão de aliados , o governo Jair Bolsonaro começa a preparar na próxima segunda-feira as primeiras ações de seu plano para o Nordeste . Uma reunião na Casa Civil, comandada pelo ministro Onyx Lorenzoni, vai reunir titulares de diversas pastas com o objetivo de elaborar medidas concretas para serem submetidas ao presidente. A movimentação ocorre depois de o Executivo ter descumprido sua primeira promessa: apresentar as prioridades de cada ministério após dez dias de gestão.
Segundo cronograma definido por Onyx no fim do ano passado, as primeiras medidas do governo Bolsonaro estabeleceriam metas a serem cumpridas em dez, 30, 60, 90 e 100 dias. Para a primeira fase (de 1º a 10 de janeiro), documento da Casa Civil definiu que cada pasta deveria enviar à Presidência a relação de suas propostas prioritárias.
Desde a posse, foram realizadas duas reuniões de Bolsonaro com os 22 ministros, mas nenhuma delas terminou com o anúncio de políticas públicas. A meta de reavaliar os atos normativos dos últimos dois meses da gestão de Michel Temer também não foi atingida.
Ao divulgar a agenda do governo para os primeiros dias, Onyx chegou a dizer que cada um dos titulares das pastas havia apresentado, no mínimo, dois projetos. Às vésperas da posse, caberia ao presidente analisar mais de 50 propostas de políticas públicas e definir a prioridade de cada área.
As ações dirigidas à população do Nordeste passaram a integrar a lista de medidas importantes a serem adotadas logo no início do governo. Na região, Bolsonaro foi derrotado na disputa presidencial — e todos os governadores eleitos são de partidos da oposição. A reunião sobre o Nordeste é uma resposta a aliados, que manifestaram ao presidente a necessidade de o governo sinalizar que não haverá retaliação à região pelo resultado das urnas.
Políticos do Nordeste que apoiaram Bolsonaro fizeram chegar ao presidente descontentamento com o fato de a região não ter recebido atenção nos primeiros dias da nova gestão. Ontem mesmo, Bolsonaro comandou reunião no Planalto com um grupo de ministros para avaliar os riscos enfrentados por moradores de um bairro de Maceió, onde foram encontradas rachaduras em vários imóveis, ainda sem causa conhecida.
Em novembro, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, disse ao GLOBO que “o Nordeste é o centro das atenções para mudar o Brasil”. Até agora, a proposta mais vistosa verbalizada pelo presidente é de buscar cooperação tecnológica com Israel para dessalinizar água. Além disso, concluir as obras de transposição do Rio São Francisco é uma meta de longo prazo.
Participarão do encontro os ministros do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, do Meio Ambiente, Ricardo Salles, da Agricultura, Tereza Cristina, e de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. A ideia é que cada pasta apresente suas primeiras contribuições para a elaboração de um plano envolvendo diferentes áreas.
A demora em apresentar metas vem sendo alvo de reclamações desde a primeira reunião ministerial, no dia 3 de janeiro. Na ocasião, Onyx afirmou que as propostas seriam anunciadas no encontro seguinte, na última terça-feira. Ao final, não houve pronunciamento sobre as medidas. Heleno, chegou a dizer que os jornalistas deveriam cobrar a resposta de Onyx.
Prioridades “entregues”
Integrantes do primeiro escalão afirmam, sob condição de anonimato, que Bolsonaro recebeu as propostas de medidas para os cem dias apenas na última reunião. No encontro, o presidente teria voltado a insistir para revisão dos últimos atos do governo Temer.
Na noite de quinta-feira, o Planalto divulgou um vídeo nas redes sociais afirmando que os 22 ministérios estão trabalhando em “40 metas estruturantes, 20 entregas para a sociedade. Tudo para entregar serviços públicos de qualidade”. As imagens mostram os ministros em reunião. A propaganda, no entanto, não explicita quais as medidas que estão sendo trabalhadas.
O GLOBO procurou a Secretaria de Comunicação da Presidência para perguntar quais seriam as metas estipuladas para esses primeiros 10 dias e qual a avaliação sobre o cumprimento dessas metas, mas foi comunicado que apenas a Casa Civil tinha essa informação.
A assessoria da Casa Civil informou que “as linhas prioritárias foram entregues esta semana pelos ministérios e estão neste momento em fase de consolidação”.
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