Um jeito “novo” de fazer a velha política
Imagem ilustrativa.
INALDO BRITO | Certos momentos que atravessamos na história acabam nos revelando o atraso em que nos encontramos do ponto de vista socioeconômico, mas que afeta também as nossas emoções. Tomemos como exemplo mais recente a pandemia do Covid-19. Enquanto em certas localidades já se começa a retomar paulatinamente a abertura comercial e o retorno aos relacionamentos sociais, outros locais ainda passam pelo clima de histeria e manutenção do isolamento social.
Cidades interioranas, afastadas dos grandes centros, até demoraram em ser atingidas pelo avanço do vírus, mas também se demoram em retornar à normalidade. No mesmo período em que medidas já eram tomadas nas capitais para conter a disseminação do patógeno, dentre elas, lockdown, isolamento social, suspensão de atividades laborais etc., cidades mais remotas, principalmente situadas no Norte e Nordeste brasileiro, ainda continuavam suas vidas como se nada tivesse acontecido ou que jamais as atingiriam.
Não que nos grandes centros as diretrizes foram obedecidas integralmente, tendo em vista que cidades de regiões metropolitanas continuavam suas atividades na mais pura tranquilidade. Entretanto, nada se compara ao marasmo e à letargia que as cidades interioranas tiveram ao saber que o vírus havia enfim atingido o Brasil. Por mais que inicialmente barreiras começassem a ser construídas em estradas de acesso às cidades, muitos habitantes ainda confundiam medidas paliativas com inexistência de contágio futuro. Era só questão de tempo para o vírus atingir as cidades mais longínquas e encravadas nos locais mais remotos do país.
Se havia a presença do medo do desconhecido nas capitais e grandes centros, agravado pelo sensacionalismo dos veículos mainstream e das projeções apocalípticas dos “especialistas da ciência”, não seria diferente nas cidades interioranas, ainda mais sabendo que muitas possuem serviços precários de internet e onde a informação pelas rádios difusoras são simples recortes do que capturam do histerismo midiático.
Parasitismo político local
Tudo isso é um ótimo exemplo de como, mesmo com o avanço tecnológico e científico do último século, ainda assim muitas regiões continuam atrasadas e no processo de obscurantismo. Cidades interioranas, tais como algumas grandes cidades, ainda são governadas como feudos políticos que, quando muito, vivem uma alternância no poder das mesmas siglas partidárias de outrora.
O interesse dessas mesmas figuras, na maioria das vezes, está em parasitar os cofres públicos locais, concedendo à população apenas migalhas como contraprestação. Se por ventura a cidade carece de desenvolvimento educacional, os gestores públicos apenas levantam prédios escolares, mas pouco fazem em capacitar professores, adaptar currículos escolares conforme à necessidade de cada aluno, ou ainda mais difícil é ver algum vereador propondo, por exemplo, a flexibilidade no ensino, como garantir a liberdade de pais em educar filhos domiciliarmente.
Se, por outro lado, a cidade carece de desenvolvimento comercial, os mesmos gestores preferem conferir subsídios a certos grupos da população (agricultores, pescadores, pequenos comerciantes etc.) em vez de, por exemplo, reduzir alíquotas de cobrança de impostos sobre determinados produtos. Enquanto aquele possibilita o surgimento de currais eleitorais e reservas de mercado, este possibilita o verdadeiro crescimento econômico de uma região, tanto no aumento do consumo como na oferta, impactando positivamente as transações comerciais.
Somos um país subdesenvolvido que parece se ufanar por essa situação. É só olhar para os nossos representantes locais e ver como isso se reflete no desempenho deles enquanto ocupantes da cadeira de fiscalizadores e legisladores. Em sua maioria, os vereadores de cidades interioranas buscam no cargo público apenas um meio de se locupletarem facilmente. Mesmo cometendo algum crime, dificilmente são cassados, devido ao corporativismo que a própria função traz consigo.
Conhecimento é poder...decidir o que é melhor
A velocidade da informação deriva de meios eficazes para sua transmissão. Locais onde o acesso à internet ainda é feito via rádio, em plena era da fibra óptica, torna a vida dos moradores ainda mais subdesenvolvida. Em muitos locais, gestores públicos optam por não conceder licenças de atuação para certas empresas de internet por querer manter a população dependente apenas daqueles veículos de comunicação detidos pela família do oligarca, sejam eles rádios difusoras, jornais de pequena circulação ou concessionárias de canais de TV.
Agora junte toda essa celeuma entre politicagem, inépcia econômica e busca por privilégios com o fato de o país ser atingido por um vírus desconhecido. A confusão instaurada até na própria ciência, cujos “especialistas” sempre conclamavam a população a confiar cegamente nela, apesar de haver grupos contrários e a favor do lockdown, isolamento social e administração de certos medicamentos (vide o imbróglio da cloroquina), é só uma amostra de que não prover às pessoas liberdade para se informar e autoeducar é garantia de atraso socioeconômico.
No pleito eleitoral local deste ano, provavelmente veremos os mesmos rostos de outrora se candidatando para eleição ou reeleição, alguns com boas ideias, apesar de não ter um bom histórico, outros com péssimas ideias, apesar de possuir boas intenções. Muitos deles podem ser conhecidos seus, amigos, parentes, alunos, professores, enfim. Alguns deles irão se render ao populismo tacanho da velha política para granjear votos. Outros tentarão se promover de uma forma mais aberta e sincera. Entretanto, o que os eleitores precisam ter em mente é que nenhuma ideia ou proposta desses candidatos visa unicamente o interesse público, pelo contrário, muitas vezes o fundamento dessas proposições se encontra no âmago do próprio proponente, em alguns momentos até mesmo visando o bem maior para seu partido, sua coligação, sua própria família, enfim, seus próprios interesses.
O eleitor precisa compreender que o atraso em que ele se encontra se deve majoritariamente aos representantes que ele mesmo elege. Sem essa compreensão, ele estará fadado a ser iludido por promessas vãs, defenderá cegamente embustes populistas e abaixará a cabeça para qualquer desvio de probidade cometida por eles. Bom, pelos rumos em que nosso país se encontra e, principalmente, o que vemos na maioria das cidades de interior, a população não parece muito se preocupar em sair dessa letargia. O subdesenvolvimento, pelo visto, atingiu até mesmo sua própria forma de pensar e agir. A velha política agradece!
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