Xique-xiquenses arrecadam donativos para vítimas das chuvas no RS e viajam até o estado para serem voluntários

Fotos: reprodução.

Na manhã desta terça-feira (21/5), já em Xique-Xique, Daniel concedeu entrevista ao portal Meio Minuto

Voluntários de todo o país se mobilizam para ajudar as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Entre aqueles que desejam fazer o bem, estavam os xiquexiquenses Daniel Cesar Santana Ferreira, de 42 anos e Anderson de Souza Vargas, de 42, que percorram mais de 3 mil quilômetros de Xique-Xique/BA a Porto Alegre (RS) simplesmente por solidariedade.

 Daniel e Anderson saíram de Xique-Xique na madrugada da sexta-feira (10/5), viajaram em uma picape arrecadando donativos e chegaram ao destino por volta de 18h do domingo (12/5).

Na manhã desta terça-feira (21/5), já em Xique-Xique, Daniel Cesar concedeu entrevista ao portal Meio Minuto — onde falou um pouco sobre a viagem e o drama dos temporais no Rio Grande do Sul.

CONFIRA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

MEIO MINUTO | Conte um pouco como foi a viagem.

DANIEL | Viajamos na madrugada da sexta-feira, dia 10/05, às 2:30. Retornamos neste domingo, 19/05, saímos às 3:30, inclusive, estamos na estrada, passando por Balneário Camboriú. Foram três dias na estrada, pois tivemos contra tempo, onde após 150 km o carro deu uma pane, dormimos das 4:00 as 6:30, no carro, e tão logo conseguimos ajustar o problema com um mecânico e retornamos a estrada. Chegamos no domingo 12/05 por volta das 18:00 em Porto Alegre.

MEIO MINUTO | Além de arrecadar donativos para as vítimas, vocês também atuaram como voluntários?

DANIEL | Donativos, tivemos roupas, sapatos, brinquedos, que grande parte foram doadas e pegamos em Jundiaí/SP, onde tivemos o apoio do vereador Dika de Xique-Xique/BA, além de água e até rapadura que trouxemos de Xique-Xique para nosso povo do Sul. Ficamos num alojamento com 220 desabrigados e era ponto de recepção de todos os donativos, diversos itens, onde o Brasil inteiro ajudava. Deste local eram distribuídos para diversos pontos de toda Porto Alegre e outras cidades adjacentes. Ajudávamos nos descarregos das carretas, caminhões e carros do exército, que chegavam com donativos, dávamos suporte para os alojados, ajudávamos no estoque de materiais, adaptamos uma máquina de lavar as roupas dos desabrigados, mas, como não dava conta, levávamos e pegávamos as roupas numa lavanderia que se dispôs a ajudar, dentre outros apoios diversos que fazíamos no alojamento. Além disso, éramos responsável por levar cargas de mantimentos e água mineral em nosso carro para outros pontos de apoio para desabrigados da capital e grande Porto Alegre. Fizemos também uma mídia e divulgamos nas redes sociais, com objetivo de arrecadar fundos para a instituição, onde usaram para despesas diversas. E nosso povo xiquexiquense, como sempre, acolhedor, abraçaram a causa e fizeram contribuições para a instituição, além de repostar os vídeos ampliando a corrente de solidariedade. Gratidão!

MEIO MINUTO | Qual cenário você consegue descrever sobre a situação do estado do RS?

DANIEL | Poderia “tentar” descrever como cena de filme de terror, onde se passam muitas cenas que mudam o tempo todo, a cada momento, cenas tristes, muitos desabrigados, muitas histórias que mexem muito conosco. 

MEIO MINUTO | Alguma história ou relato que você gostaria de compartilhar?

DANIEL | Sim, no ⁠nosso alojamento abrigava um pessoal de um bairro que moravam as margens do rio Guaíba, grande parte deles eram catadores de madeira e papelão, onde tiravam o sustento e grande parte da casa deles eram feita desse mesmo material que catavam. Porém, eram terrenos as “margens/borda” do rio Guaíba, onde desbarrancou e levou a casa tornando o terreno inabitável. São histórias muitos tristes, onde lamentamos muito por todos.

MEIO MINUTO | Teve algo que lhe marcou ou comoveu?

DANIEL | Sim, ⁠teve um caso que mexeu muito conosco, onde chegou um rapaz, que trabalhava num açougue de frente ao nosso abrigo, ele nos visitou para pegar mantimentos, com os olhos cheio de lágrimas, nos contou que um grande amigo havia sido salvo e ele o abrigou em sua casa, “o rapaz estava com a esposa a três dias preso por dentro do telhado, somente com a cabeça para fora, onde eles gritavam e chegou uma benção de Deus, que os salvou, foram três dias bebendo água suja e sem comer.” Eram diversas histórias tristes que mexiam muito com a gente.

MEIO MINUTO | Fale um pouco sobre as ações de empatia e solidariedade que você presenciou em meio ao cenário de destruição.

DANIEL | Vimos coisas boas, além das amizades que fizemos lá, com os parceiros que nos deram apoio e todo suporte, vimos que o Brasil não é um país dividido, e sim, um país acolhedor, um país onde o nordestino tem irmãos no sul e somos um só povo. Foi muito lindo ver as doações, desde nossa ida na estrada, eram muitos, mais muitas carretas, carros, todos com donativos e outros com reboque de barcos e jetski. Então somos um só povo. Foi marcante ver todo esse amor e apoio do nosso povo juntos e de mãos dadas. O local que ficávamos, era uma escola e ao lado estava o sindicato dos metalúrgicos do RS, esse pessoal fez um trabalho lindo, onde todos estavam sem ver suas famílias a 10, 12, 15 dias, onde estavam focados dia e noite em ajudar, apoiar, orientar, carregar e coordenar tudo que chegava e tudo q saía, além de produzir café, almoço e jantar para cerca de 250 pessoas entre os voluntários e alojados diariamente. O pessoal do sindicato se dedicou com muito amor, carinho e atenção, onde tinham médicos, enfermeiros, psicólogos, assistência social e farmacêutico, todos voluntariados.

MEIO MINUTO | Para finalizar, fique à vontade para as suas considerações finais.

DANIEL | Para finalizar, não podemos deixar de agradecer o apoio, e hoje, a amizade e admiração que temos por eles, que muitos contribuíram com nosso objetivo, ajudar ao próximo, aos irmãos do Sul. E ao mesmo tempo os parabenizamos por toda dedicação, empatia e amor a todos os necessitados. São eles: Felippetto, Fred, Adilson, Beto, Bob, Alex, Rogerio, Jorge, Marcelo, Hugo, Wagner, Igor, Claudete, Aline, dentre outros que ajudaram incansavelmente em prol do próximo.